Aquele natal se avizinhava diferente... Sentia isso no ar... Não conseguia explicar... Saiu de casa tomado de uma estranha sensação...Esperança?... Não sabia... Quando percebeu, estava escolhendo uma árvore... E um montão desses adereços com que se enfeita uma árvore de natal...lembrou-se da infância... O avô, festeiro como ninguém, preparando a árvore... Ficava maravilhado com as bolas coloridas... Mas do que mais gostava, mesmo, era do último enfeite... Quando estava tudo pronto, o avô abria uma caixinha comprida e retirava com cuidado uma peça multicolorida... Era um bico, com uma estrela na base... Colocava, então, na ponta da árvore... Só depois disso, ligava as luzes, presas a pequenos candelabros transparentes, cheios de um líquido colorido...Águas verdes, azuis, encarnadas e mil outras cores que nunca soubera decifrar... E, após alguns minutos, aquilo ebulia...Pequenas bolhas subiam até a superfície, dentro de cada candelabro...E a árvore adquiria vida... Pulsava... Esses eram os seus natais... Há muito não se lembrava deles...
Retornou ao pequeno apartamento de quarto-sala-cozinha-banheiro, já quase-noite... Iniciou um ritual a que não estava afeito, há vários anos...Retirou da sacola o pequeno pernil temperado... Colocou com cuidado, na forma de aluminio... Abriu uma lata de cerveja e despejou todo o seu conteúdo sobre a carne... Levou a pequena forma ao forno e o ligou... Colocou a toalha branca sobre a mesa... Pegou pratos e talheres para três pessoas... Montou a árvore num canto da sala... Era uma árvore diferente...Meio triste, sem os candelabros e a estrela-ponta...acendeu as luzes, que começaram a piscar, freneticamente... Apagou as luzes da sala... Sentou-se ao lado do telefone... Como se estivesse esperando uma ligação.... Abriu a garrafa de malte e serviu uma dose generosa, que sorveu de uma só vez... Serviu a segunda dose, e não se sabe lá quantas mais...Era meia-noite, quando o telefone tocou... Uma...Duas...três vezes...Hesitante, atendeu...Alô... Me chame o Alexandre, por favor...Aquí não tem ninguém com esse nome...Desculpe...Desligou o fone, enquanto uma névoa penetrava na sala...Em meio a um estranho cheiro de carne torrada... Então...ergueu um brinde...Feliz Natal!
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